Filhos e filhas

Nos próximos dias 27 e 28 deste mês celebramos dois grandes exemplos de fé da nossa Igreja: Santa Mônica e Santo Agostinho. Uma mãe repleta de fé em Deus e que gerou seu filho também para a graça com muitas lágrimas e oração. E como Deus é rico em misericórdia, Agostinho não só se converteu, como se tornou santo e doutor da Igreja Católica.

Santo Agostinho, no seu livro “Confissões” relata um dos últimos diálogos que teve com sua mãe, que aqui transcrevo para edificar a nossa fé:

“Ao aproximar-se o dia de sua morte – dia que só tu conhecias e nós ignorávamos – sucedeu, creio que por tua vontade e de modo misterioso como costumas fazer, que ela e eu nos encontrássemos sozinhos, apoiados a uma janela, cuja vista dava para o jardim interno da casa onde morávamos, em Óstia Tiberina. Afastados da multidão, procurávamos, depois das fadigas de uma longa viagem, recuperar as forças, tendo em vista a travessia marítima. Falávamos a sós, muito suavemente, esquecendo o passado e avançando para o futuro. Tentávamos imaginar na tua presença, tu que és a verdade, qual seria a vida eterna dos santos, aquela que “os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem não percebeu”. Abriram-se os lábios do coração à corrente impetuosa da tua fonte, fonte de vida que está em ti, para que, aspergidos por ela, nossa inteligência pudesse meditar sobre tão grande realidade.

Assim falávamos, se bem que de modo e com palavras diversas. No entanto, Senhor, tu sabes como nesse dia, durante esse colóquio, o mundo, com todos os seus prazeres, perdia para nós todo valor, e minha mãe me disse; ‘Meu filho, por um só motivo eu desejava prolongar a vida nesta terra: ver-te católico antes de eu morrer. Deus me satisfez amplamente, porque te vejo desprezar a felicidade terrena para servi-lo. Por isso, o que é que estou fazendo aqui?'”. (Confissões, livro IX)

Lendo esse belo relato, nos resta apenas pedir o que estamos rezando na novena: “Santa Mônica e Santo Agostinho, levai-me à verdadeira conversão”. Esse deve ser o nosso desejo. Deus quer que criemos relação com Ele, dotados de uma vida interior que nos faça voltar a ser o que Ele sempre desejou para nós: seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. Ele quer que sejamos perfeitos como Ele, o que exige conversão.

Não se trata de algo que conseguimos fazer do dia para a noite e sim de um processo — contemplação, ascetismo (autocontrole do corpo e busca de Deus), devoção, piedade, espiritualidade — por meio do qual somos chamados a nos sentar com Deus e com Ele passarmos todas as tardes, sem vergonha de nossa “nudez”. Sem precisar criar “filtros” para ser aceito pelo Senhor e ser como Ele nos fez.

Uma das virtudes fundamentais nesse processo chama-se “temor de Deus”. A palavra temor não quer dizer medo, e sim reverência, um amor reverente. Devemos pedir que o Senhor introduza em nossa mente o santo temor, para nos conscientizarmos da nossa indignidade e da necessidade de arrependimento. Esse é o caminho espiritual que nos afasta do mal e nos conduz para o próximo e para o Criador.

Temer a Deus e amá-Lo são as duas faces da mesma graça recebida, a qual nos dá o discernimento para distinguir entre o puro e o impuro, o santo e o profano. O que possibilita a percepção daquilo que não é de Deus é justamente o santo temor.

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti

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