A Fifa inicia nesta quinta-feira (3), em Abu Dhabi, a 18ª edição de seu Mundial de Clubes sem saber qual será o futuro da competição. O Palmeiras estreia na terça-feira (8), às 13h30 de Brasília, contra o vencedor de Monterrey (México) e Al Ahly (Egito), que se enfrentam no sábado (5), também às 13h30. A ideia da direção da federação internacional era ganhar dinheiro, muito dinheiro, com um torneio de clubes turbinado, com 24 participantes, ao menos oito deles europeus, o que inevitavelmente colocaria várias das grandes marcas como Real Madrid, Bayern de Munique, Juventus, PSG e as potências inglesas da Premier League em uma mesma edição. Seriam pelo menos seis sul-americanos a cada Mundial, que seria quadrienal.
A primeira edição, que substituiria o atual formato com sete participantes, já tinha data para ocorrer e país-sede: entre junho e julho de 2021, na China. A pandemia de covid-19 fez o torneio ser cancelado, antes ainda de se definir os participantes e até critério de classificação, mas não foi só isso que colocou em banho-maria o sonho do Super Mundial de Clubes.
Ao compreender que precisava atualizar o calendário do futebol mundial, que no modelo atual vai até 2024, o comando da Fifa visualizou uma galinha de ovos de ouro, digamos, mais dourada: uma Copa do Mundo de seleções bienal. Nas contas da entidade, uma Copa a cada dois anos daria uma renda extra de US$ 4,4 bilhões (R$ 23 bilhões) em um ciclo de quatro anos, bem mais do que o US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) que o Super Mundial poderia render.
O Mundial de Clubes remodelado sumiu das conversas em Zurique, onde está a sede da Fifa, e a obsessão virou a Copa bienal. E isso está documentado: no projeto de remodelação do calendário apresentado aos 211 filiados em dezembro de 2021, a Fifa ignorou o Mundial de Clubes e focou em torneios de seleções, como os continentais (Euro e Copa América) e até na Liga das Nações, que teoricamente compete diretamente com a Copa do Mundo.
FUTURO
Sem um Mundial turbinado, entende-se que a Fifa poderia manter o modelo atual, com sete participantes, o campeão de cada confederação, mais um representante do país-sede. Esse regulamento é usado desde 2005 —em 2000, no primeiro Mundial organizado pela Fifa, que foi no Brasil, foram oito participantes, com dois sul-americanos (Corinthians, o campeão, e Vasco) e dois europeus (Manchester United e Real Madrid).
Há, porém, quem não goste, em Zurique, do formato, principalmente porque não dá dinheiro à Fifa. Na edição de 2019 no Qatar, a última antes da pandemia, a Fifa teve uma receita de US$ 23 milhões com a competição e gastos de US$ 22 milhões para organizá-la. Ou seja, lucro de apenas US$ 1 milhão.
O torneio só se manteve no calendário por causa de um contrato de patrocínio exclusivo feito em 2015 com o grupo chinês Alibaba e que vence em 2022. Como o blog revelou em março de 2021, a Fifa não incluiu o Mundial em seu orçamento de 2022, o que pode fazer com que não tenhamos este ano a competição. O torneio que começa nesta quinta em Abu Dhabi é referente à edição de 2021, que deveria ter sido no Japão em dezembro, mas devido à pandemia foi adiado para fevereiro de 2022 e mudou de sede.
Se a Fifa conseguir convencer europeus e sul-americanos de que é interessante mudar o calendário para ter uma Copa do Mundo a cada dois anos, o formato atual do campeonato de clubes talvez seja mantido para dezembro de cada ano. Caso contrário, a versão turbinada pode finalmente sair do papel. Mas como tudo, no fim, depende do dinheiro, não se surpreenda se o Mundial deixar de ser disputado, mesmo que por alguns anos.
Al Jazira (Emirados Árabes) e Pirae (Taiti) abrem a edição 2021 na quinta-feira. Quem vencer esse confronto encara o Al Hilal (Arábia Saudita), no domingo (6), de onde sai o rival do Chelsea (Inglaterra) na semifinal do dia 9. A final está marcada para 12 de fevereiro, 13h30 (de Brasília). O Grupo Bandeirantes transmitirá o evento.