O trabalho conjunto entre a instituição de ensino e uma associação ambientalista visa estabelecer parâmetros para a comercialização segura do mel produzido pelas abelhas nativas

Na primeira semana de maio, a Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Marília dá início a um novo estudo: a pesquisa das abelhas nativas sem ferrão (ANSF), as Melipona, realizada pelo curso de Tecnologia de Alimentos. “Conhecemos trabalhos de vários segmentos, mas faltavam as análises da área de alimentação feitas por um Instituto de Ensino Superior sobre a produção das abelhas”, avalia o jornalista e ambientalista Fernando Garcia, integrante da Associação Doce Futuro, sem fins lucrativos, que firmou parceria com a instituição.

“As atividades de pesquisa incluem análises físicas, químicas e microbiológicas em amostras de mel recém-coletado e ao longo do processo de maturação proveniente de diferentes espécies de abelhas sem ferrão. Elas servirão como requisitos de identidade e de formação de padrões importantes para a garantia de segurança de consumo do mel. Além disso, serão base de referência para inspeção, permitindo a comercialização oficial”, resume a professora Flavia Vasques Farinazzi Machado, encarregada de coordenar o projeto apresentado por Fernando Garcia, que estuda abelhas há 17 anos.

Durante esse tempo, Garcia vem se dedicando ao trabalho como ambientalista. Com Johnny Santana e João Tramarin, fundou em 2021 o projeto Doce Futuro e Agrofloresta, que se propõe a reflorestar uma área pública queimada e degradada de 120 mil metros quadrados e a elevar o patamar das pesquisas de meliponicultura, o estudo das abelhas nativas. É onde entra a expertise dos docentes da Fatec Marília.

Pesquisa acadêmica e viabilização do consumo

Nutricionista de formação, Flavia contará com a colaboração das professoras Renata Bonini Pardo, veterinária, e Juliana Audi Giannoni, engenheira agrônoma. Elas devem acompanhar um grupo de quatro alunos do curso de Tecnologia de Alimentos: Ana Valeria Brazini, José Vitor Silva, Luana Quirino Gonçalves e Tatiele Mayara da Silva Oliveira.

“Os dados coletados também servirão para a estruturação de ensaios e outros projetos de pesquisa acadêmica, além da publicação em eventos e revistas científicas”, explica Flavia. O conhecimento a que ela se refere é indispensável também para determinar dados como o procedimento correto de extração do mel, para evitar a contaminação por microorganismos, e a estabelecer sua shelf life (literalmente, tempo de prateleira), ou seja, a validade do mel in natura e maturado de cada espécie.

“Para o mel produzido pelas Apis mellifera, o tipo mais comum de abelha e, portanto, o mais comercializado, já existem metodologias específicas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, que nos informam se determinado mel é bom para a comercialização”, conta Garcia. A ideia é criar essa metodologia para a Melipona.

Os estudantes terão três aulas teóricas, de três horas cada. As aulas práticas acontecerão aos sábados, no meliponário da Associação Doce Futuro, no distrito de Padre Nóbrega, que abriga 57 colônias com 20 espécies diferentes das Melipona (são 49 espécies no Estado de São Paulo e 350 no Brasil).

“Da polinização feita pelas abelhas depende 71% do alimento do mundo ocidental”, lembra Garcia. “Pesquisar e cuidar das abelhas é um ato de amor ao ser humano.”

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