Filhos e filhas,
Em vários momentos, ouço partilhas dolorosas de pessoas que possuem algum membro da família preso em algum vício. Drogas ilícitas e álcool são os mais comuns, mas sabemos que existem vários tipos de vícios que causam muitos sofrimentos, para a família e para si mesmos.
Além de enfrentarem o adoecimento do organismo, é comum que as pessoas viciadas se sintam culpadas em razão da perda do senso de moral. Devemos ter em mente que muitas delas chegam a mentir e até a roubar para saciar suas compulsões. No limite, acabam sucumbindo a uma degradação que as leva à falta de entusiasmo pela vida e à depressão.
Por isso, mais do que nunca, precisam do apoio da família, dos amigos e, principalmente, de Deus para quebrar esse ciclo de auto abuso. Os tratamentos clínicos em diferentes frentes: desintoxicação, acompanhamento psicoterápico, grupos de apoio, nutrição adequada etc., são necessários e fazem parte do caminho desejado por Deus para a libertação e a cura.
Como exemplo, cito uma partilha sobre alcoolismo que me chamou a atenção: “Padre, já passei por essa experiência horrível. No começo, bebia nos fins de semana uma dose aqui, outra ali, e dizia com convicção: ‘Bebo socialmente e paro quando quiser’. No entanto, eu estava enganado e já não conseguia parar. Foram anos de luta e brigas com minha família, e só comecei o processo de retomada da sobriedade quando tive a humildade de admitir que eu era um doente e precisava de ajuda. Antes de desgraçar completamente minha vida, procurei o AA [Alcoólicos Anônimos] e comecei a frequentar as reuniões. Sentia vergonha e vontade de beber, mas compreendi que Deus estava a meu lado e eu tinha que fazer a minha parte. A ajuda maravilhosa do grupo foi essencial para eu trilhar o caminho da recuperação”.
Não se discute o fato de os vícios serem considerados enfermidades e louvo a Deus pelos médicos e profissionais atuantes nessa área, estimulando sempre a busca pelos recursos disponíveis na medicina e na psicoterapia para a superação do problema. Por outro lado, essa também é uma enfermidade espiritual e por isso afirmo, sem medo de errar, que é essencial passar por uma cura nesse âmbito.
Jesus já se entregou e sofreu por nós. Foi o mais alto preço pago pela nossa redenção. Não somos “qualquer um”: somos filhos de Deus resgatados pelo Sangue de Jesus. Não importa em que situação a pessoa se encontre, se está ou não no ponto mais fundo do poço, aparentemente sem condições de conectar-se com Deus pela fé. Basta uma abertura, um minúsculo fio de esperança associado ao desejo de se libertar para o Senhor agir.
De todo modo, é importante lembrar que tudo deve partir da própria pessoa, repetindo o que tão bem compreendeu nosso irmão que relatou seu caso de dependência: “Faça a sua parte!”. É consolador saber que Deus nunca deixa de fazer a parte Dele, ajudando-nos inclusive a fazer a nossa.
Não é fácil, mas é possível. Há passos para sair do vício. A vigilância tem que ser constante, incluindo todas as precauções para evitar situações de risco, como deixar para trás os lugares frequentados antigamente, as más companhias, as lembranças e os pensamentos tentadores… O Inimigo sabe onde nos encontrar.
Deus nos criou para vivermos felizes, livres e em paz. Mas somente em Jesus Cristo somos vencedores, pois Ele, e nada mais, é a Verdade que liberta. Por isso, peço por todos estão sofrendo direta ou indiretamente por algum vício, que Jesus, pelos méritos de Suas Santas Chagas, os liberte, conforte e fortaleça.
Deus abençoe,
Padre Reginaldo Manzotti