Compartilhar tarefas, definir prioridades e desacelerar compromissos são ações importantes para a saúde mental de mães, segundo psicóloga
Durante a pandemia de Covid-19, muitas mães chegaram ao limite com a quantidade de tarefas diárias espalhadas em lares onde o home office dos pais se misturava às aulas online dos filhos. Tudo isso emoldurado pelo medo e incertezas geradas diante do cenário mundial de mortes e crise econômica. Para as mulheres, que historicamente carregam o peso de prover à família acolhimento e conforto emocional, foi difícil lidar com tantos problemas a resolver, como o filho que não prestava atenção na aula ou o adolescente que sofria com o isolamento social, acarretando em muitas o esgotamento mental.
“Esta condição pode ocasionar aumento da irritabilidade diante de tarefas diárias, distúrbio no sono (insônia ou excesso de sono), alteração no apetite e cansaço extremo. Também é comum se questionar sobre a capacidade para desempenhar o papel de mãe quando se está muito sobrecarregada e sem conseguir gerenciar os conflitos da maneira que considera ideal”, explica a psicóloga Marília Batarra Lima, que atua na equipe de Saúde Mental do Amil Espaço Saúde Ana Rosa, em São Paulo.
A psicóloga lembra que esse esgotamento não modifica a intensidade dos sentimentos e vínculo que as mães possuem com seus filhos, mas é algo que precisa ser alertado para que as mesmas possam buscar formas de cuidado. Uma delas é enumerar a quantidade de tarefas que passaram a assumir.
“Parece algo simples, mas que no dia a dia muitas mães não conseguem perceber a quantidade de funções que desempenham. Através desse olhar é possível pensar em delegar atividades, reduzir a autocobrança e reservar momentos de autocuidado. Assim é possível se reabastecer para a vivência do vínculo materno que é tão intenso e potente no desenvolvimento humano”, orienta Marília.
Não existe receita, mas respirar fundo, reduzir o ritmo e buscar experiências que promovam a saúde mental, como a prática de atividades físicas e culturais, momentos em silêncio, leitura e conversas entre amigos, ajudam a evitar e a sair da estafa mental. Nessa caminhada, o apoio da família e de amigos próximos é fundamental, bem como não ter vergonha de pedir ajuda.
Para auxiliar as mães a não caírem novamente no esgotamento mental, a psicóloga lista cinco lições aprendidas com a pandemia. Confira:
Compartilhar tarefas
Reduza a autocobrança em executar tudo de forma perfeita. Delegue funções do dia a dia para os membros da família, incluindo, claro, os filhos. Nessa divisão, faça-os entender o que é responsabilidade de cada um. Se não fizerem, não ceda à vontade de fazer e chame o responsável para cumprir o combinado.
‘Escolher brigas’
Antes de perder a cabeça pela toalha molhada em cima da cama, respire fundo e pense: “Vale a pena eu me estressar por isso?”, e peça a quem deixou para levar até o local certo. Identifique o que é realmente importante, e se for para esquentar a cabeça, que seja com isso. Gerencie prioridades.
Desacelerar compromissos
Sentiu que está cansada, estressada, então pare. Querer participar de tudo e assumir inúmeros compromissos em um único final de semana, por exemplo, é o caminho mais curto para se chegar estafada na segunda-feira.
Pedir ajuda e evitar comparações
Peça sempre que sentir que o fardo está pesado demais. Amigos e familiares estão aí para isso. E não se compare a outras mães. Se a vizinha faz comida, estuda com os filhos e trabalha, mas você não, tudo bem. Entenda que cada um tem o seu limite próprio. Também não se importe com as críticas sobre a forma como educa os seus filhos. Entenda que muitas vezes quem critica não sabe do que está falando, não está na sua pele.
Cultivar momentos individuais
Reservar tempo e espaços de autocuidado. Estar coladinha aos filhos é uma dádiva, mas também é importante descolar de vez em quando e fazer algo individual (ou a dois). Um dia (ou algumas horas) de ócio ou do lazer que você escolher é combustível para a alegria, leveza e serenidade, ou seja, para ser uma mulher e uma mãe ainda melhores!