Após completar 300 anos em dezembro de 2020, o Café Florian, clássica cafeteria italiana localizada na Praça de São Marcos, em Veneza, corre o risco de encerrar suas atividades muito em breve.
O café italiano enfrentou uma enchente em novembro de 2019, a segunda maior na história de Veneza, com quase dois metros de altura de água. O estrago da tragédia foi tamanho que a cidade teve mais de 1 bilhão de euros (aproximadamente R$ 6,4 bilhões) de prejuízo.
Com a promessa de se recuperar em 2020, a pandemia do novo coronavírus transformou a cidade turística em uma cidade fantasma. O carnaval de Veneza sempre atrai milhares de turistas e foi cancelado com a chegada da pandemia de Covid-19 na Itália.
História centenária
O Café Florian foi fundado em dezembro de 1720, com o nome de “Alla Venezia Trionfante”, por Floriano Francesconi. O espaço foi se popularizando e as pessoas costumavam dizer que iam ao “Florian”, nome de seu dono.
Pouco depois ele foi rebatizado com o nome de “Café Florian”.
Um dos principais pontos turísticos ao visitar a cidade, o café atraiu celebridades e turistas em seus três séculos de vida. Entre os frequentadores do espaço estão Charles Dickens, Marcel Proust, Andy Warhol, Friedrich Nietzsche, Charles Chaplin, Margaret Tatcher e muitos outros.
O local também serviu de cenário para filmes, como o “The Talented Mr. Ripley” (“O Talentoso Ripley”, em português), gravado em 1999 com Matt Damon e Gwyneth Paltrow no elenco.
O impacto do novo coronavírus
Apesar de ter sobrevivido a duas guerras mundiais, enchentes e a gripe espanhola, talvez a pandemia do novo coronavírus possa encerrar a história do estabelecimento.
De acordo com o jornal argentino La Nación, apesar dos problemas, em 2019 o espaço teve um faturamento de 8,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 54,5 milhões). Em 2020, porém, o total arrecadado despencou e foi de 2,5 milhões de euros (Cerca de R$ 16 milhões).
O governo italiano criou ajudas financeiras para a crise do novo coronavírus apenas para empresas que tiveram um faturamento menor que 5 milhões de euros (aproximadamente R$ 32 milhões) em 2019, o que não permite que o Café Florian possa pedir auxílio.
Em uma entrevista para a revista americana Architectural Digest, Marco Paolini, gerente do café, comentou que o aluguel de um ano do espaço custa cerca de 1 milhão de euros (aproximadamente R$ 6,4 milhões), pagos para uma empresa privada e para o Estado. Ele conta que a empresa perdoou metade da dívida, mas o estado italiano não ajudou em impostos, aluguel ou com ajuda de custo.
Segundo o jornal argentino, 65% da população local de Veneza se dedica às atividades turísticas.
“Não sobrou ninguém em Veneza. Na Praça de São Marcos não há estabelecimentos abertos. Os museus estão fechados. No verão, poderíamos lidar com 20 ou 30% do faturamento normal. Mas agora nem abrimos, porque não há absolutamente nenhuma alma na cidade ”, disse Paolini à revista americana.
O fechamento do Café Florian não é apenas a perda de um espaço turístico em Veneza, mas também o encerramento de uma parte da história italiana.
“Essa crise não é apenas econômica, mas histórica, já que o Café Florian é um pedaço da história italiana conhecida em todo o mundo”, disse o gerente.
Fonte: CNN Brasil